Caro fiel leitor de meus bilhetes deixados nesse banco, nesta estação de trem... Eu sei que você me ler todos os dias. E quero dizer que te conheço. O meu trem sai segundos após você chegar, sim, meu caminho é o oposto do seu e eu sempre te vejo correr pra o local onde eu deixo meus bilhetes, e queria te agradecer por ler, e não vai dar certo você tentar deixar algum bilhete pra mim, eu só retorno a estação no outro dia e a limpeza já tem sido feita e nada que me deixe eu poderei encontrar na manhã seguinte.
Bom, como te disse no meu bilhete anterior, está tudo tão confuso, tão complicado. Eu ainda vou todos os dias fazer aquele trabalho tosco e que não me causa prazer algum, mas é o que eu tenho. E olha, sabe as moças do café? Elas continuam a me olhar torto, e eu continua a ignorar. Virou automático já, meu caro. Chegar, ligar meu computador, pegar o café e voltar a rotina, a rotina de olhar fixamente cada letra, cada detalhe até o horário de ir pra casa. E então chego depois de uma carona, tomo banho, como e desabo na cama em meio as séries ou aos livros, mas eu ando achando meus livros mais solitários que nunca. Sai há duas semanas, comprei um cardigan preto, achei que ele combinaria com meu coque alto já que só posso usar assim desde que ferrei meus cabelos jogando tinta azul sereia, não é que não é legal, é que eu não soube fazer mesmo.
Estou te escrevendo aqui e por hoje chega, amanhã, se der, te deixo mais um bilhete. As vezes você chega antes de meu trem chegar e sei que você me procuraria, e me convenço que é melhor só ver seu sorriso ao achar meu bilhete... Até amanhã ou até o dia que você chegue só depois que meu trem tenha saído.
Jack e Mabel avistam uma menina loira correndo por entre as árvores, mas a criança não é comum. Ela caça com uma raposa-vermelha ao lado e, de alguma forma, consegue sobreviver sozinha no rigoroso inverno do Alasca.
Enquanto o casal se esforça para entendê-la uma criança que poderia ter saído das páginas de um conto de fadas, eles começam a amá-la como se ela fosse filha deles. No entanto, nesse lugar bonito e sombrio, as coisas raramente são como aparentam ser, e o que aprendem sobre essa misteriosa menina vai transformar a vida de todos eles.
Vou deixar uma listinha de coisas que mais me doeram ouvir. E se você é uma mãe que passou por isso, sinta-se abraçada, sinta-se confortada e saiba que lá do céu nossos anjinhos estão olhando por nós, e um dia iremos nos encontrar. Seja forte, voce é guerreira, é linda, é especial, foi escolhida pra ser mãe de um anjo. Suas lágrimas um dia vão diminuir, talvez acabar, a lembrança vai continuar e seu amor, ah eu amor, esse nunca vai morrer.
E hoje me bateu uma saudade de escrever pra você, afinal, existem meses que não paro pra pensar em você. Chega a ser bem engraçado, mas antes era tão frequente e doloroso. Hoje não falo de você com a frequência que falava, não consigo nem falar direito, acho que sua lembrança caiu no esquecimento diário mas vive nas lembranças do coração.
Esses dias lembrei que em 2012 você falou sobre fazer cinco anos de nossa 'amizade' e então lembrei que esse ano faria dez anos.
E o que rolou nesses dez anos, não é mesmo? Não, eu ainda não parei de comer carne, ainda não me formei na faculdade, ainda não tenho filho, ainda não mudei pra Gramado, ainda não publiquei um livro, ainda não visitei o museu, ainda não fiz tantas coisas que eu sonhava.
Mas eu andei de avião, eu casei, eu bebi pitu, eu me arrisquei num relacionamento sem futuro, eu aprendi uma nova paixão que é criar coisas e desenhos, eu adotei vários gatos, eu me tornei professora de crianças, eu não reclamo mais de ter que ir ao médico.
Mas eu ainda não conclui o tratamento da depressão, também não me arrisquei em pensar em uma outra faculdade sem ser jornalismo.
Essa madrugada lembrei de quando você conseguia código dá Tim pra mandar SMS sem gastar os poucos créditos que tínhamos na época de adolescente, só pra saber se às 3h eu já estava dormindo ou ainda estava mexendo no meu casaco azul e chorando sem saber o que seria de mim.
Olha, eu ainda mexo no casaco e ainda choro, mas não tem mais nenhum SMS, ou como é comum hoje, uma msg via whatsapp (que você nem chegou a conhecer) pra saber se dormi, se tô com medo, se preciso falar de bolsas ou de personagens fictícios.
Quem me ver falando assim nem imagina o quanto eu odiava suas falhas, suas manias absurdas e sua constante mudança, mas nós sabíamos como minha depressão e sua bipolaridade nos afetava e nos protegia.
Um dia, meu bem, quando eu tiver uns filhinhos bochechudos, eu vou falar pra eles de você, de quanto você era insuportável e mesmo assim amável. Nunca vou te esquecer completamente e esteja você, hoje, num bom lugar e que, se possível, olhe por mim aqui em baixo.
Eu te dedico, seu intruso!